Brotinho – A magia dos dedos

(Homenagem dos Magoados a Antônio Moacir Piedade Pucci, o saudoso Brotinho).

A luz atenuada, o salão brilhante, a dança harmoniosa, os passos envolventes, o enlevo dos casais, de repente, o som. O som inesquecível.

Como pingos tamborilando na vidraça da janela, os dedos mágicos bailam sobre o bongô. O som ecoa, todos param: é o Brotinho.

O ritmo toma o coração, a conversa estanca, os olhares se acendem, as pupilas de cada espectador dançam em sintonia com o ritmo delicioso.

A pele em frenesi respira a música do ar, enquanto os enamorados colam seus corpos, em êxtase profundo.

Em tudo há uma aveludada suavidade.

Tudo tão suave como o vôo rasante do pássaro sobre as águas.

Tudo tão suave como o movimento manso das pétalas de flores.

Tudo tão suave como a gota d’água a deslizar sobre o granizo.

Tudo tão suave como o sibilar macio do vento sobre as folhas.

Seria justo que tudo isso terminasse com o seu desaparecimento deste mundo?

Deus, na sua infinita sabedoria, não abrira mão de tamanha sensibilidade.

Deus abrigou-o em seu rebanho de justos. E ainda mais. Para nós que assistimos maravilhados o renascer de cada aurora, que contemplamos extasiados a Via Láctea invadir o céu da noite, dia após dia, e que entendemos que não há noites eternas e nem tempestades infinitas, entendemos que: toda vez que a chuva tamborilar na vidraça da janela, saberemos que é ele que volta e nos oferece o renascer maravilhoso do seu som, do seu ritmo e da magia dos seus dedos.

Sérgio Galati Pedrosa

(Jornal da Manhã, Marília/SP, em 02/02/2008)